CASA RAIZ

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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

KIZOMBA IA MAM’ETU KAANGO.



KIZOMBA IA MAM’ETU KAANGO.
NENGUA SIAVANJU, KIWÁ  KAANGO! (GRANDE SENHORA DOS VENTOS DA MORTE!)
A festa aconteceu de forma surpreendente, enigmática e carregada de muitas energias positivas que pareciam brotar do chão e cair do céu contemplando esta incansável luta pelo resgate da Cultura Tradicional Bantu Angola. Duraram mais de um mês os rituais de reforço de santificação e sacralização do solo e céu da inzo (casa) Raiz do Benguê NGola DJanga ia Matamba para que Mam’etu Kaango chegasse na sua casa, em seu verdadeiro estilo Bantu Angolano,  sob Nduílo (céu) e sobre Iungo (terra) cuidadosamente preparados com as mesmas características da terra mãe, Angola.
PAMBUNJILA, ALUVÁ/ALUVAIÁ ( divindade responsável pela formação do corpo humano ).

KILULU, guardião do caminho da inzo de PAMBUNLILA

TSHIZORI guardiões da inzo de PAMBUNLIJA.

TATA MANE OU MENE  que recebe o nome específico de ZAKAÊ PANZO, por ser o guardião da inzo de Tateto ABANANGANGA ( Ntembu), visto ao fundo.

TATA MANE IA MAM'ETU kAANGO

NGANGA ALUVÁ, PAMBUNJILA (Divindade rresponsável pela formação do corpo).
 Antes, porém, faz-se necessária uma breve explanação sobre a origem do uso da Mukange (máscara) como principal adorno de identificação dos Akisi/Minkisi (plural de Mukisi/Nkisi, Angola e Kongo respectivamente), nos rituais destas nações Bantu. Tem aumentado significativamente o número de tat’etus e mam’etus que estão engrossando as fileiras, na busca deste tradicionalismo que embora tenha atravessado o oceano atlântico, foi sufocado como tantos outros rituais bantu pelo catolicismo e, que para resistir até hoje, foi obrigado a aceitar os módulos de origem jeje/nagô para aqui representar seus akisi/minkisi, porque no ritual Bantu eles, através da Mukange (máscara)  tomam a aparência de espírito,  espectro ou sombra, duplo anímico, que recebe o nome qualitativo de TSHIZORI ( espírito), responsável pela condução da centelha divina, a forma de vida encarnada que permite a formação, o nascimento, crescimento e desenvolvimento dos seres.
MAM'ETU KAANGO SENHORA DOS VENTOS E DA MORTE, USANDO MAKANGUÈ (MÁSCARA) ENTRA NA SALA AO SOM DO RÍTIMO KABULA!

MAM'ETU KAANGO COM SUA SARDELA (vara de amoreira com o cabo castroado em palha da costa) 



MAM'ETU KAANGO ACESSORADA POR SUA MAKOTA DANDAMÊ.

MAM'ETU KAANGO CONDUZ OS MORTOS  PARA A SENZALA KASAMBE IA NZAMBI!

MAM'ETU KAANGO AJOELHADA COMO ESTRATÉGIA DE GUERRA

MAM'ETU KAANGO EMPUNHANDO SEU SABRE DE COBRE SIMBOLIZANDO A DEFESA DE SEUS FILHOS NA GUERRA.

 Em contrapartida os Orixás e Voduns, respectivamente nas nações de de Ketu e Jeje, tomam a forma humana usando em lugar de Mukange ( Máscaras), coroas e capacetes que regulam entre a época da Antiguidade e a época Medieval, nesta, predominou uma única Instituição que foi a Igreja Católica. A verdade é que não podemos ficar mais quinhentos e tantos anos, relegados ao ostracismo, já que estamos vivendo um grande momento de conquista de visibilidade do povo Bantu. Ainda temos em nosso meio alguns líderes que lutam contra o uso da Mukange máscara) nos rituais de iniciação ou reforços, bem como na interpletação de cantigas em português, tradicionalmente cantadas  em nossos rituais. Todavia, é claro que respeitamos este posicionamento, pois em sua maioria é causado pela falta de informação, ou até mesmo de opiniões formadas que alegam que este e outros rituais ficaram lá em na África e que só é Angola se cantar em Kimbundo ou Kikongo. A nossa opinião é que se lá ficaram é hora de buscá-los e, se aqui foram sufocados, é hora de resgatá-los e cantar cantigas em português faz parte do nosso ritual, até porque as línguas bantas em sua maioria foram traduzidas pelos padres capuchinhos que desde 1504 já viajavam para estas ex-colônias, hoje países lusófonos, ou seja, países que falam a Língua Portuguesa), para implantar o catolicismo e, por conseguinte, o Português como língua oficial. Tentar suprimir fatos como estes é querer alterar a Cultura de um povo espalhado por todo o Mundo. É preciso observar que tais atitudes, como por exemplo, erradicar as cantigas tradicionalmente cantadas pelas matriarcas do candomblé de Angola como  Maria Nenem e Mariquinha Lembá do Tombenci, bem como os saudosos Tatas Bernadino do Bate Folha e Siriáco do Tumbajunçara, podem até se caracterizarem como "crime" contra o Patrimônio Histórico Cultural Material e Imaterial desses países que buscam em sua evolução, a padronização da Língua Portuguesa para facilitar, principalmente, o intercâmbio comercial entre eles. É importante lembrar que este pacto está devidamente selado entre esses Governos através da Reforma Ortográfica realizada entre os mesmos em 2009.  Por isso, é que estamos sempre que possível, procurando passar informações acadêmicas combinadas com a oralidade dos nossos mais velhos para que gradativamente, tomemos conhecimento e apropriação do que é nosso, sem no entanto, ferir o nosso patrimônio cultural que por tanto tempo viveu na obscuridade.  Anterior a tudo isso não existia gramática, por tanto esse conceito de certo ou errado é pósgramatical. Precisamos analisar o nosso próximo com relativismo ou seja aceitando como ele é e procurando entender porque ele é assim, não devemos mais fazer uso do sistema implantado pelo europeu que considerava todo aquele que fosse diferente dele, como primitivo, burro, selvagem e que por isso tinha que ser escravizado, colonizado e catequisado ou morto. Deixemos um pouco, a vaidade de lado e vamos pensar coletivamente ao invés de pensarmos individualmente!  NÃO SÃO OS POVOS DE KETU OU JEJE E SUAS RAMIFICAÇÕES QUE NOS PREJUDICAM. ELES APENAS FAZEM USO DE UMA SITUAÇÃO AQUI JÁ ENCONTRADA. NA VERDADE, SOMOS NÓS ANGOLEIROS QUE USAMOS DE ARROGÂNCIA, MENOSPREZANDO UNS AOS OUTROS COM ESSA HISTÓRIA DE RAIZ,  ACHANDO A SUA,  MELHOR E SUPERIOR QUE A OUTRA. RAIZ É O MESMO QUE FAMÍLIA, E FAMÍLIA SE CONSTRÓI A PARTIR DA MAIORIDADE OU QUANDO SE CASA. NÃO PODEMOS CONTINUAR CONFUNDINDO FILHOS DIRETOS COM DESCENDENTES. É DA RAIZ QUEM FOI INICIADO PELO FUNDADOR DA MESMA (DONO) DE  CASA,  O  FUTURO FILHO DESSA PESSOA INICIADA (NO CASO, O FUTURO NETO)  JÁ SERÁ DESCENDENTE, POIS A SUA RAÍZ SERÁ A PESSOA INICIADA QUE ABRIU A SUA PRÓPRIA  CASA, PARA FAZÊ-LO. PARA QUE HAJA EVOLUÇÃO,  PROGRESSO E VISIBILIDADE PARA DA NAÇÃO DE ANGOLA É PRECISO QUE CADA CASA, ALÉM DE INICIAR SEUS ADEPTOS E SEGUIDORES, SE PREOCUPE, TAMBÉM COM TRABALHOS SOCIAIS JUNTO AS SUAS COMUNIDADES, DIVULGANDO AQUELA NOVA RAIZ JÁ QUE "CADA UM VALE QUANTO PESA", OU SEJA,  "CADA UM COLHE O QUE PLANTA". EM OUTRAS PALAVRAS: ASSUMIR OS SEUS PRÓPRIOS ERROS E ACERTOS,  EVIDENTEMENTE, SEM ESQUECER DE FRIZAR A SUA DESCENDÊNCIA ESPIRITUAL SEM CONTUDO, VIVER À SUA SOMBRA.  TOMEMOS COMO EXEMPLO UMA FAMÍLIA SANGUÍNEA ONDE O FILHO SE CASA E CONSTRÓI UMA NOVA FAMÍLIA E ASSIM SUCESSIVAMENTE. NÃO É SÓ DA SEMENTE QUE NASCE A RAIZ, PODE , TAMBÉM, NASCER DE UM CAULE OU DE UMA FOLHA!. QUEM MANDA AÍ, SÃO OS ELEMENTOS QUATERNÁRIOS: TERRA, ÁGUA, AR E FOGO. EX: O CAULE DA MANDIOCA, A RAMA DA BATATA, A FLOR DE MAIO E ETC, FINCOU NA TERRA OU COLOCOU NA ÁGUA, TAMBÉM, BROTA E DÁ RAIZ. É BOM QUE FIQUE AQUI, BEM CLARO QUE NÃO ESTAMOS QUERENDO TIRAR O MÉRITO DAS RESPEITÁVEIS RAÍZES MAIS ANTIGAS, MAS, É PRECISO QUE  CADA DONO DE CASA TENHA EM MENTE QUE A SUA CASA É UMA NOVA RAIZ DESCENDENTE DE OUTRA E COM ISSO PROCURAR CONSTRUIR E NÃO DESTRUIR OU ATÉ MESMO SE ACOMODAR VIVENDO E USANDO UM RÓTULO QUE NA VERDADE SÓ PERTENCE AQUELE ANTECESSOR QUE RALOU MUITO PARA ATÉ ALÍ CHEGAR.
Observemos a pergunta inteligentíssima doTata Katuvanjesi de Itapecirica da Serra em SP aos angoleiros do Brasil, com a qual, concordo em gênero, número e grau.   ___" O que é melhor compreensivo e adequado, paramentar o Orixá com um Adê (Coroa) utilizando para tal os apetrechos literalmente e visceralmente já caracterizando a tradição Yorubá-nagô, apelidando essas divindades de Nkisi ou paramentar o Nkisi com a sua indumentária e insígnia que pode ser Mukangê (Mascara), lança etc.? Até quando vamos continuar alimentando mentiras vergonhosas e apresentando desculpas deslavadas e insanáveis, orixalizando e nagotizando os Minkisi…? "  Tata Katuvanjesi em seu texto publicado em seu blog.

REFERÊNCIAS:
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SCISÍNEO, Alaôr, Eduardo. “Dicionário da Escravidão”,  1ª.ªEd. RJ, Léo Christiano Editorial LTDA - 1997.
RIBAS,Oscar, Ilundo - 1958.
QUINTÃO, Luís, José, Gramática do Kimbundu, Escola Superior Colonial - 1934.
TAVARES, Lourenço, José, Gramática da Língua do Congo (Kikongo), missionário - 1934.
MAIA, Da Silva, Antonio, Padre, Dicionário Complementar Português – Kimbundu – Kikongo, Luanda – Angola - 1961.
NASCIMENTO, Pereira do, J, Dicionário Português – Kimbundu, Médico da Armada Real, explorador e naturalista - 1903.
SILVA,Alberto da Costa e. A manilha e o libambo. A Áfricae a escravidão de 1500 a 1700. Rio de Janeiro, Nova Fronteira/ 2002. P. 235.
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ANGELO,  Alfredo.Professor, pesquisador UERJ. 1997.  E.mail: katende@oi.com.br
CARNEIRO, Edson “Candomblés da Bahia”, Ed. De Ouro – 1948.
JOHN M. Janzen, Ngoma: Discourses of Healing in Central and Southern Africa, University of California Press, Berkeley and Los Angeles, 1992
JAMES L. Newman, The Peopling of Africa: A Geographic Interpretation, Yale University Press, New Haven, 1995
SILVA, Jeusamir Alves da Silva ( Tata Ananguê), “ Angola Nação Mãe – O Resgate do Candomblé Tradicional Bantu – Angola”, Ministério da Cultura – Fundação Biblioteca Nacional – pp: 06 – 226;